Na última terça eu estava num dia atípico, totalmente consciente dos sons e imagens que pairavam à procura de quem lhes enxergasse algum significado. Foi impossível evitar. Peguei o ônibus e no banco em frente ao meu estava sentado um sujeito tendo ao colo um menino de uns cinco anos que presumi ser seu filho. Sujos de areia e exalando aquele característico cheiro de água do mar, só podiam estar vindo da praia. Chamou a atenção a maneira como o indivíduo beijava, acariciava, cheirava e murmurava palavras indecifráveis para o guri, que se limitava a exprimir um certo conformismo com a situação. Conforme o coletivo seguia seu caminho, aquela interminável e efusiva demonstração de afetividade começou a me incomodar. Pensei lá com meus botões: Só falta agora ele passar a, literalmente, lamber a cria. Felizmente vagou um lugar mais adiante e pude trocar de panorama. Ameaçava ficar imerso em pensamentos, quando fui despertado por um estridente gorgolejo, a título de risada, vindo do banco detrás. Uma voz feminina, com forte sotaque nordestino, debochava do cabelo “igual do Elvis” que fulano tinha. Será que sou eu?, pensei assustado. Embora não ostente um penteado como o do Rei, sou meio paranóico e sempre desconfio que estão falando de mim pelas costas. Enquanto me debatia em dúvidas, a conversa evoluiu para o medonho topete adotado pelo Ronaldinho. A analista capilar criticava uma mulher que apareceu na TV imitando o jogador. Sua interlocutora rebateu o comentário e garantiu ser capaz de tal ousadia, inclusive já incorporara o visual de Ivete Sangalo em priscas eras. Prática depois abandonada, fruto da decepção por Ivete se esquecer dos baianos ao ficar famosa. Confesso que diante de tão pungente desabafo quase fui às lágrimas. Como vocês devem ter notado a conversa alcançava seu clímax, mas infelizmente vou ficar devendo o desfecho. Meu destino final chegara e desci contrariado para a calçada.
Para encerrar o dia, avistei na rua uma senhora passando um pito caprichado no garotinho que caminhava ao seu lado. No instante em que nossos caminhos se cruzaram, ela dirigiu um olhar severo para o moleque e disparou: "Mas você tá muito antipático hoje!". Não pude deixar de achar graça. Que eu me lembre nos meus tempos de criança jamais fui adjetivado dessa maneira (embora até merecesse). Pelo menos ninguém pode acusá-la de ser pouco original.
Para encerrar o dia, avistei na rua uma senhora passando um pito caprichado no garotinho que caminhava ao seu lado. No instante em que nossos caminhos se cruzaram, ela dirigiu um olhar severo para o moleque e disparou: "Mas você tá muito antipático hoje!". Não pude deixar de achar graça. Que eu me lembre nos meus tempos de criança jamais fui adjetivado dessa maneira (embora até merecesse). Pelo menos ninguém pode acusá-la de ser pouco original.
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